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E se Campinas, SP, fosse dos trabalhadores?

Por: MAIS Campinas, SP

Estamos num momento importante para a esquerda socialista no Brasil. Por um lado, uma brutal crise econômica que nos joga no desemprego e na miséria. Só em Campinas, o desemprego atingiu 10,23% em junho de 2016, com aumento de mais de 100% comparado a abril de 2014. Por outro lado, após anos do governo de conciliação de classes de Lula e Dilma (PT), a burguesia quer impor o governo reacionário de Temer para aprofundar os ataques aos direitos da classe trabalhadora e recuperar o lucro dos empresários.

As eleições municipais que vão ocorrer em outubro estarão atravessadas por esse cenário e por uma questão fundamental para a esquerda socialista: a ruptura de milhões de trabalhadores e jovens que não enxergam mais o PT como uma alternativa para o país. A conclusão a que essa camada de trabalhadores chegou, e com razão, é que foi a própria frente popular que nos trouxe a essa situação e que abriu caminho para o governo ilegítimo de Temer (PMDB).

É nesse cenário, difícil e complexo, que a esquerda socialista deve atuar para construir uma alternativa política para os trabalhadores.

Em Campinas, a burguesia tem candidatos
Nos últimos quatro anos, a Prefeitura de Campinas atacou enormemente os serviços públicos, os direitos dos trabalhadores e foi também um grande balcão de negócios para os empresários e os conservadores da cidade. O governo de Jonas Donizette (PSB), que tem o apoio de grandes partidos burgueses como o PSDB e o PMDB, aprovou um subsídio de R$ 30 milhões por ano para as empresas privadas de transporte urbano, com o intuito de salvar os lucros.

Ele aprovou, ainda, a lei das terceirizações, que autoriza empresas privadas a administrarem e lucrarem com os serviços públicos, como já acontece com o Hospital do Ouro Verde, as naves-mãe, entre outros. Foi durante o governo Donizette que:

1 – Foi discutido o projeto de proibição sobre o debate de gênero, identidade de gênero e orientação sexual nas escolas da cidade, aprovado em primeira votação.
2 – Continuaram a ocorrer chacinas da polícia, como a do Ouro Verde em 2014.

3 – Se aprofundou a criminalização às atividades culturais da juventude, como os blocos de carnaval e o pancadão. Além disso, Jonas cortou o apoio e incentivou a repressão à Parada LGBT de 2016. Isso é apenas um resumo dos ataques e da demonstração da política elitista e conservadora. Vale lembrar que Jonas é um dos citados na lista da Odebrecht, que apareceu na Lava Jato como tendo recebido R$300 mil na campanha de 2012.

As candidaturas de Doutor Hélio (PDT) e Artur Orsi (PSD) também só representam a elite da cidade. Hélio já foi prefeito com apoio do PT e sofreu impeachment em 2011 por envolvimento em escândalos de corrupção na Sanasa, empresa de tratamento de água e esgoto. Orsi estava no PSDB desde a juventude, nos anos 80, mas por uma briga burocrática decidiu migrar para o PSD para ser candidato. No entanto, vale lembrar que Orsi, o vereador mais votado em 2012, não apresenta um programa diferenciado do de Jonas. O grande problema para Orsi está na suposta má administração e não no programa de privatização e sucateamento dos serviços públicos da cidade.

Por último, temos o candidato Márcio Pochmann, do PT. É preciso lembrar que o partido dos trabalhadores já governou Campinas com Izalene e foi um desastre para a cidade. Pochmann representará, nessas eleições, a tentativa fracassada de um governo de conciliação de classes que tenta atender os interesses da população com os serviços públicos e agradar a iniciativa privada com parcerias, fundações privadas, entre outras. Em momentos de crise como o que estamos vivendo, essa política de conciliação serve somente para salvar as grandes empresas e não os trabalhadores. Nesse sentido, é um projeto que fracassou em nível nacional e que os trabalhadores não devem depositar nenhuma confiança regionalmente.

Duas coisas unificam todas essas candidaturas, o programa burguês e o fato de elas expressarem tudo o que a juventude e os trabalhadores que se mobilizaram a partir de junho de 2013 rejeitaram.

A esquerda socialista deveria expressar o programa de junho por meio de uma frente de esquerda
Para se contrapor a essas candidaturas burguesas, acreditamos que o PSOL e o PSTU deveriam se unificar numa candidatura de esquerda e socialista. Infelizmente, os dois partidos lançaram candidatos separados. O PSOL, com a professora e ex-vereadora Marcela Moreira e o PSTU, com o petroleiro aposentado Marcos Margarido.

Por que defendemos uma Frente de Esquerda Socialista? No cenário em que estamos é necessário aos militantes e ativistas unificarem as lutas contra o governo reacionário e ilegítimo de Temer e disputarem a consciência dos trabalhadores que não enxergam o PT como alternativa. Assim, nenhuma organização da esquerda está em condições para ser este polo de atração para essa camada de trabalhadores. Lamentamos que as duas organizações não tenham defendido a fundo essa política de unidade.

Uma campanha unitária organizada junto aos importantes sindicatos dirigidos pela esquerda, como o dos Químicos e Metalúrgicos, ambos da Intersindical, e que se apoiasse na vanguarda das greves – de estudantes e trabalhadores da Unicamp, dos servidores públicos municipais, das fábricas em luta, como a recente ocupação da MABE – poderia representar um pontapé inicial para uma alternativa de esquerda e socialista nas lutas e nas eleições.

Se a cidade fosse dos trabalhadores
Para nós, uma campanha socialista deveria expressar o espírito de junho, a defesa e ampliação dos serviços públicos de saúde, educação, saneamento, entre outros, contra uma cidade que é governada pelos e para os ricos.

Por isso, defenderemos durante a campanha municipal um programa socialista para a cidade de Campinas. Algumas medidas que queremos discutir com as campanhas e com os ativistas são a necessidade da estatização do transporte público rumo à tarifa zero, a auditoria e o não pagamento da dívida pública. Um programa de investimento em educação e saúde pública que tenha como objetivo zerar o déficit na educação infantil, acabar com a superlotação dos hospitais e garantir atividades de lazer, cultura e esporte nos bairros, principalmente da periferia da cidade.

Para isso, será necessário acabar com as imposições da Lei de Responsabilidade Fiscal e substituí-la por uma Lei de Responsabilidade Social. Também é preciso acabar com os cargos comissionados, contratar e valorizar os serviços públicos. É necessária a tributação progressiva das grandes propriedades, o fim das privatizações e das terceirizações no serviço público, a promoção do debate de gênero, da identidade de gênero e de sexualidade nas escolas, a desmilitarização da Guarda Municipal e a transformação numa guarda controlada pela população, entre outras medidas.

Somente invertendo a lógica da privatização, da terceirização e da precarização é que poderemos ter uma cidade para os trabalhadores, para a juventude e para os setores oprimidos.
Será com essas bandeiras e na defesa de uma frente de esquerda para as lutas, que o #MAIS Campinas se somará às campanhas de Marcela Moreira e Margarido e defenderá o voto nos candidatos socialistas. Para nós, cada voto e militante que somem nessas campanhas serão pontos de apoio para uma frente de resistência ao governo Temer e para a construção de uma alternativa socialista para o país. É por isso que chamamos os trabalhadores e a juventude a se somarem na defesa de um programa socialista para Campinas e na defesa da construção de uma frente de esquerda nas lutas e nas eleições.

Foto: Wikipedia