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EDITORIAL

Vida e morte sob os céus de Alepo

Foto: Aleppo Media Centre

A imagem de um pequeno sobrevivente, com olhar perdido e rosto ensanguentado, lembrou ao mundo o desespero da aparentemente interminável guerra civil síria. 

Omran Daqneesh, de cinco anos, estava na traseira de uma ambulância no bairro de Qaterji, localizado no coração da zona rebelde de Aleppo.

Ele sobreviveu a mais um ataque aéreo na campanha dirigida por Vladmir Putin, Bashar Al-Assad e a República Islâmica do Irã contra a insurreição popular árabe, produto do processo revolucionário aberto no Egito em janeiro de 2011. Na época, Omran provavelmente ainda estava para nascer.

Com boa parte do país reduzido a pó, quase meio milhão de mortos, mais de 12 milhões de refugiados internos e externos e a presença de tropas e e agentes estrangeiros da Russia, Irã, Líbano, Afeganistão, Turquia, países do golfo, Estados Unidos e boa parte das potências imperialistas mundiais em seu território, é difícil achar uma luz de esperança saindo da Síria.

A cidade de Aleppo, de onde vem Omran, é um oásis de terror e morte em meio a um deserto de desespero. Palco de crimes de guerra não só do regime sírio, mas também de diversos grupos rebeldes, que lutam militarmente contra Assad e o auto-intitulado “Estado Islâmico”, a cidade do Norte é o principal prêmio militar em disputa desde a militarização do conflito. Não fosse o papel nefasto do ISIS (cuja barbarie não se compara a nenhum período histórico anterior no Oriente Médio), que colaborando com Assad tomou grande parte do interior de Alepo, os grupos rebeldes já teriam conquistado a capital da província.

A partir do inicio do ano, sob comando russo, Assad conseguiu relocalizar-se militarmente por lá. Graças a Putin à campanha de bombardeios aéreos, no qual utiliza-se quantidades cada vez maiores de armas químicas, Damasco vem lentamente ganhando território. Para isto, sofisticou o nível de barbárie. Desde o envolvimento direto da Rússia na batalha por Aleppo, literalmente todos os hospitais da cidade na zona rebelde foram bombardeados pelo ar.

Mesmo com todas as necessárias críticas aos rebeldes que lutam contra Assad, a batalha pela libertação síria do regime Assad e do domínio russo é causa justa.  E mesmo que os anseios por dignidade e liberdade, que abasteceram a primeira fase do levante e foram esmagados por Damasco pela militarização do confronto pareçam ter sido uma miragem distante, é no campo militar dos rebeldes em que podemos localizar, mesmo que apenas intuitivamente, seu fio de continuidade. Até porque, será apenas com a derrota dos russos , do “Estado Islâmico” e de Assad que crianças como Omran poderão sonhar com um futuro.

Foto: Aleppo Media Centre

Marcado como:
guerra civil / síria